O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) publicou nesta semana o relatório intitulado “Estado da População Mundial 2025”, trazendo um alerta para o declínio “sem precedentes” nas taxas de fertilidade em escala global.
O documento, que ouviu adultos em 14 países representando mais de um terço da população do planeta, revela que a maioria das pessoas ainda deseja ter dois ou mais filhos, mas encontra cada vez mais obstáculos para realizar esse desejo. O fenômeno preocupa a ONU por suas consequências sociais e demográficas, especialmente diante do envelhecimento populacional e da redução da força de trabalho.
Segundo o relatório do UNFPA, cerca de um em cada quatro habitantes do mundo já vive em países onde o crescimento populacional atingiu seu pico e começa a cair. Entre as causas apontadas para a dificuldade em constituir famílias maiores, destacam-se fatores econômicos, instabilidade no emprego, falta de moradia acessível e preocupações com o futuro. A pesquisa mostra que 39% dos entrevistados citam restrições econômicas como principal barreira para ter o número de filhos desejado, seguida pelo desemprego ou subemprego (21%) e problemas com habitação (19%).
“O mundo começou um declínio sem precedentes nas taxas de fertilidade. A maioria das pessoas entrevistadas quer dois ou mais filhos. As taxas de fertilidade estão caindo em grande parte porque muitos sentem que não conseguem criar as famílias que desejam. E essa é a verdadeira crise”, disse à BBC Natalia Kanem, diretora executiva do UNFPA.
O levantamento aponta ainda que quase um terço das pessoas entre 50 anos ou mais reconhecem que tiveram menos filhos do que gostariam. Além disso, cerca de 23% dos adultos disseram ter passado por momentos em que desejavam ter um filho, mas não conseguiram, frequentemente por falta de condições materiais ou apoio social.
“Os dados mostram que as dificuldades para formar uma família do tamanho ideal são universais, tanto em países com alta quanto com baixa fertilidade”, afirma o relatório do UNFPA.
Entre os testemunhos colhidos na pesquisa, os participantes relataram preocupações com custos de moradia, dificuldade de acesso à saúde e medo de criar filhos em contextos de guerra e instabilidade ambiental.
“Comprar uma casa ou conseguir um aluguel acessível na minha cidade é impossível. Também não gostaria de dar à luz um filho em tempos de guerra e num planeta que está se deteriorando, se isso significar que o bebê vai sofrer por isso”, relatou uma jovem mexicana de 29 anos, cujo nome não foi revelado, entrevistada pelos autores do relatório.