O cardeal Robert Francis Prevost foi eleito nesta quinta-feira (08), no segundo dia de conclave, para o mais alto posto da Igreja Católica. O novo papa, que alcançou os mais de 2/3 de votos necessários dos 131 cardeais votantes, adotará o nome de Leão XIV ao longo do seu pontificado.
Nos próximos dias será celebrada a missa de posse do novo pontífice, no entanto, conforme a tradição da Igreja Católica, o religioso assume imediatamente o posto a partir do momento em que aceita o convite formal – ou seja, Prevost já é o novo papa.
Quais os principais desafios que Leão XIV, o novo papa, vai enfrentar
Leão XIV enfrentará desafios notórios em várias frentes – das combalidas finanças do Vaticano à difícil tarefa de restaurar a unidade de uma Igreja que vive um momento ímpar de polarização política e dogmática. Entre os desafios complexos que o novo papa terá pela frente estão a queda no número de fiéis em muitos países ocidentais e o crescimento rápido em regiões como África e Ásia, exigindo atenção a realidades culturais muito diferentes.
Por outro lado, Leão XIV terá a missão de debater temas sensíveis e demandas de grupos diversos – de tradicionalistas e conservadores a reformistas e progressistas –, que vão desde as restrições à chamada missa tridentina até mudanças complexas que podem entrar em choque com a doutrina católica.
Veja a seguir alguns dos principais desafios que o Leão XIV terá pela frente.
Posicionar-se em um mundo polarizado
O papa Francisco era visto como mais alinhado a setores progressistas e já teve encontros e diálogos amigáveis com figuras como Evo Morales, Lula, Alberto Fernández e Bernie Sanders. Já João Paulo II combateu abertamente o comunismo e manteve firmeza em temas sobre moralidade dentro da igreja, e Bento XVI também seguiu uma linha mais conservadora, especialmente no campo doutrinário e litúrgico. Caberá ao novo papa agir em meio a um momento de divisões ideológicas, com foco em restaurar a unidade dentro da Igreja.
Lidar com demandas controversas, algumas relacionadas à “diversidade na Igreja”
Há uma série de temas-tabu à espera de Leão XIV: um deles é a ordenação de diaconisas – durante seu pontificado, o papa Francisco criou duas comissões de estudo para avaliar a possibilidade de mulheres assumirem esse ministério que, hoje, por razões teológicas, é exclusivo de homens que receberam o sacramento da Ordem. Outros assuntos espinhosos que Leão XIV deverá avaliar ao longo do pontificado são a benção para casais do mesmo sexo, a classificação do celibato de sacerdotes como opcional e a comunhão (eucaristia) para divorciados que estão em uma segunda união.
Tratar da questão dos abusos sexuais pelo clero
A crise de abusos sexuais é, há anos, uma ferida aberta na Igreja. O novo papa precisará enfrentar a questão com transparência e responsabilidade, especialmente em regiões onde o problema é subnotificado, como a África.
Na segunda-feira (5), o órgão do Vaticano de proteção à criança (Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores – PCPM) havia aos cardeais que elegerão o novo papa que, ao votarem, priorizassem a preocupação com o combate aos abusos de menores. Está é, portanto, uma demanda que certamente deverá ser apreciada por Leão XIV.
Avançar ou recuar com a sinodalidade
Um dos acontecimentos mais expressivos no Vaticano nos últimos anos foi o Sínodo da Sinodalidade – um processo iniciado pelo papa Francisco em 2021 para escutar várias vozes católicas sobre o futuro da instituição no modelo de “Igreja sinodal”, em que leigos e religiosos participam ativamente das decisões.
Trata-se de um processo de descentralização das decisões pelo Vaticano. O sínodo começou em 2021 e foi concluído em 2024, mas Francisco sinalizava manter a cultura da sinodalidade, que poderá ser mantida ou freada por Leão XIV. Progressistas costumam enxergar na sinodalidade oportunidades históricas de renovação, enquanto conservadores e tradicionalistas temem que leve a mudanças doutrinais e relativismo.
Administração das finanças do Vaticano
O papa Francisco promoveu, ao longo do seu pontificado, uma ampla reforma financeira no Vaticano para enfrentar décadas de má gestão, falta de transparência e escândalos. No entanto, as contas do Vaticano seguem deficitárias. Em 2022, o rombo divulgado pelo Vaticano superou os R$ 200 milhões. De lá para cá a Santa Sé não divulgou mais o valor deficitário, mas segundo a agência Reuters, em 2024 esse valor teria batido a marca dos R$ 500 milhões.
Reengajar jovens e vocacionados à vida religiosa
A Igreja Católica registrou um crescimento de 1,1% no número de fiéis entre 2022 e 2023, totalizando 1,4 bilhão de pessoas, segundo o Annuario Pontificio 2025. O continente africano é o que mais contribuiu para esse número, com crescimento de 3,3%. Por outro lado, em outros continentes o cenário é de estagnação ou redução de fiéis. Um grande desafio do novo papa será engajar jovens para aumentar o número de vocacionados à vida religiosa.