Partido de Musk perde fôlego e Milei se firma como líder libertário

Partido de Musk perde fôlego e Milei se firma como líder libertário



Embora tenha animado defensores radicais das liberdades econômica e de expressão — os chamados libertários —, a fundação de um partido político nos Estados Unidos com essas bandeiras, ventilada no início do mês por Elon Musk, perdeu força após a trégua entre ele e o presidente Donald Trump.

Enquanto brotam líderes nacionais ligados ao libertarianismo ou liberalismo radical, o presidente argentino Javier Milei segue como o único governante abertamente libertário da História. E após colecionar vitórias em menos de dois anos de governo, ele cresce como a maior inspiração do movimento.

O bilionário Musk publicou em 5 de junho na sua rede social X uma enquete sobre a chance de criar legenda para atrair 80% dos americanos, os que não se identificam com ideias extremas dos dominantes partidos Democrata e Republicano. Em pouco tempo, 5,6 milhões, 82% do total, votaram “sim”.

Musk considerou o resultado auspicioso e até lançou o nome provisório do America Party (Partido América). A iniciativa viralizou nas plataformas digitais, gerando memes e comentários. O bilionário Mark Cuban apoiou publicamente a proposta de agremiação centrista para os “80% no meio”.

“Partido dos 80%” de Elon Musk corria o risco de virar legenda sem expressão

O “partido de Musk” foi sacado no auge da briga com Trump, iniciada após a crítica do empresário ao plano fiscal do republicano, que chamou de “abominação nojenta”. Trump reagiu com igual intensidade, ameaçando encerrar parcerias do governo com empresas do ex-principal conselheiro.

A movimentação prometia dividir apoios e doações eleitorais para grupos conservadores, ainda dominados por Trump, além de promover um ideário a partir da defesa de soluções baseadas na redução da interferência estatal, na tecnologia e na liberdade para os indivíduos se expressar e empreender.

Para Márcio Coimbra, diretor do Instituto Monitor da Democracia, se fosse levado adiante o projeto de partido de Musk com ares libertários, ele teria antes de enfrentar grandes obstáculos legais e logísticos para se consolidar como opção viável, pois o sistema eleitoral dos EUA induz ao bipartidarismo.

“Basta lembrar que os EUA já têm um partido libertário (conhecido como LP), fundado em 1971, mas sem expressão”, diz. “Os libertários desejam construir uma América em que indivíduos possam seguir sonhos de maneira pacífica e honesta, sem interferência do governo”, evoca o estatuto do LP.

No resto do mundo surgem políticos candidatos a ser o “próximo Milei”

O professor Daniel Afonso Silva, especialista em relações externas da USP, avalia que faltou a entusiastas do novo partido americano visão pragmática do choque entre Trump e Musk. “Uma hipótese é que o bilionário dificultou o acesso ao presidente de empresários-chave para o projeto dele”, diz.

Silva vê outra possibilidade para o rompimento, a de crescente percepção de que a melhor forma de Musk auxiliar a Casa Branca seria do lado de fora dela. “Um partido alternativo da direita nos EUA não para rivalizaria com o governo. Ao contrário, só reforçaria a sua natureza conservadora”, explica.

Enquanto isso, surgem de forma incipiente mundo afora políticos libertários candidatos a “próximo Milei”. Um desses é o deputado chileno Johannes Kaiser, líder e fundador em 2024 do Partido Nacional Libertário, defensor do Estado mínimo, do liberalismo econômico e de valores conservadores.

Outro nome apontado como celebridade libertária é o holandês Geert Wilders, líder do Partido para a Liberdade (PVV). Conhecido pelas posições anti-imigração e pela defesa de políticas econômicas liberais, Wilders e seu partido têm se destacado na política local, em apoio à agenda da direita.

Único parlamentar libertário do Brasil torce pelo avanço de colega chileno

Único parlamentar do Brasil vinculado ao movimento libertário mundial, o deputado Gilson Marques (Novo-SC) seguiu com atenção o noticiário acerca do novo plano político de Musk: “É algo que agora deve ser analisado com cautela, sobretudo porque houve recuos e desculpas aos ataques a Trump”.

Para Marques, o cenário provável é que “partido dos 80%” vire só uma ideia passageira: “O sistema partidário dos EUA, o mais antigo, é dominado por dois partidos há quase 200 anos. Se Musk fundar um partido, ele se juntaria a centenas de outros independentes e historicamente de pouca expressão”.

O deputado acrescenta outro fator contrário ao sonho partidário do sul-africano Musk. “Por não ter nascido em solo americano, ele está legalmente impedido de disputar a Presidência, tornando ainda mais incerta a chance do seu projeto alcançar competitividade em eleições majoritárias”, observa.

Sobre o futuro do chileno Kaiser, Gilson Marques ressalva a diferença no contexto que levou Milei ao poder. “Por anos, ele teve ampla exposição na mídia, sempre com ênfase em temas econômicos. Depois, veio o colapso da Argentina, com o presidente assumindo com a inflação anual de 200%”, diz.

O deputado recorda ainda que os principais adversários de Milei na eleição eram Patrícia Bullrich, ligada ao ex-presidente Macri, que falhou na missão de domar a crise fiscal e inflacionária, e Sergio Massa, o então ministro da Economia, que prometia sanar problemas criados pelo seu próprio governo.

De toda forma, Marques espera que o partido libertário avance nas eleições do Chile em novembro: “Mesmo sem os fatores que impulsionaram Milei, Kaiser conta com o exemplo da vizinha Argentina, cuja agenda de reformas liberais reverteu a tragédia econômica e recolocou a rota do crescimento”.

Milei derruba inflação, atrai investimentos externos e inspira líderes de outros países

Em maio, a inflação mensal da Argentina despencou para 1,5 %, a menor desde 2020 —conquista celebrada por Milei e apoiadores mundo afora. A taxa abaixo das projeções reforçou a confiança internacional no programa argentino de austeridade estatal, cortes de gastos e flutuação do câmbio.

A administração Milei já conseguiu reduzir a parcela da pobreza extrema na população argentina de 18% para 8%, tirando 4,6 milhões dessa condição. Esse bom momento pode ajudar o presidente nas eleições legislativas de outubro, com as estimativas de que a inflação de 2025 feche em 28,6%.

Eleito em 19 de novembro de 2023, com 56% dos votos no segundo turno, batendo o peronista Massa (44%), Milei obteve a maior vitória eleitoral no país desde 1985, quando se iniciou a fase de redemocratização. O libertário venceu em 20 das 23 províncias, incluindo Buenos Aires e a capital federal.

Fã de Milei, Musk foi presenteado pelo argentino com uma motosserra

No dia 20 de fevereiro, nos EUA, durante a CPAC, principal encontro político de conservadores do mundo, Milei presenteou Musk com uma motosserra, gravada com o slogan “¡Viva la libertad, carajo!” — como símbolo da guerra contra a burocracia, defendida também pelo bilionário no governo Trump.

O presente de Milei visou incentivar o trabalho de Musk no Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), implementado pelo homem mais rico do mundo na atual gestão Trump e que gerou uma economia estimada de US$ 175 bilhões aos cofres públicos dos EUA. A ferramenta evoca os cortes de gastos.



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