Novo pega candidaturas do PL para crescer, mas apoia Bolsonaro

Novo pega candidaturas do PL para crescer, mas apoia Bolsonaro


O Partido Novo, de oposição, recentemente recebeu em seus quadros os deputados Ricardo Salles e Luiz Lima, que vieram do Partido Liberal, do ex-presidente Jair Bolsonaro. Outra filiação de peso foi a do desembargador Sebastião Coelho, crítico declarado do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que procurava um partido para se candidatar ao Senado. Segundo o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, mais parlamentares da direita virão, mas a ideia não é confrontar e sim apoiar Bolsonaro. Ao mesmo tempo, ele quer fazer seu partido crescer.

As movimentações não foram motivadas por divergências ideológicas. As vagas do PL para candidaturas ao Senado são alvo de pesadas disputas internas e os parlamentares decidiram deixar a população decidir quem serão seus senadores – e não caciques de partidos. Por isso procuraram um partido que apoia suas candidaturas.

Salles e Lima estão voltando para o Novo. Salles tinha sido desligado do partido ao assumir o Ministério do Meio Ambinete no governo Bolsonaro. Já o ex-nadador olímpico Lima tinha se filiado ao Novo em 2016. Os dois mantiveram seus mandatos com apoio do PL ao mudar de partido.

Em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo, o presidente do Novo, Eduardo Ribeiro, disse que o partido aproveitará esse cenário para crescer. Ele vê as eleições de 2026 não apenas como decisivas para a legenda, mas como um ponto de inflexão para o país – a última chance de conter a hipertrofia do Judiciário. As principais bandeiras de seus candidatos devem ser o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, a saída do PT do poder e a austeridade fiscal.

Para tirar Moraes, o partido vai aderir à estratégia do PL de tentar conquistar maioria de oposição no Senado, o único órgão capaz de limitar os poderes do STF e promover o impeachment de seus ministros.

O partido deve apoiar uma candidatura de Jair Bolsonaro. Se ele não puder concorrer, a ideia, por ora, é lançar Romeu Zema para a Presidência no primeiro turno. Mas Ribeiro ressalva que o posicionamento do partido vai depender muito da estratégia que for adotada por Bolsonaro.

Defendendo ideias do liberalismo clássico, o Novo começou com a união de cidadãos e empresários ficha-limpa em 2011 e foi ganhando espaço. Mas teve que flexibilizar sua convicção inicial de impedir que seus integrantes se candidatassem a mais de dois mandatos, o que tinha o objetivo de evitar o personalismo que direciona outros partidos. Mas a agremiação percebeu que não é fácil transferir capital político e um partido não sobrevive somente de ideias, mas precisa de pessoas.

“Nós fomos fazendo esses ajustes para se adaptar à realidade. Mas não que por isso a gente abra a mão daquilo que a gente defende”, disse Ribeiro.

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Confira os principais trechos da entrevista com o presidente do Novo

O Novo recebeu alguns nomes que foram do PL. Por que o partido está abrindo espaço para essas lideranças da direita e como fica o relacionamento com o PL? 

Eduardo Ribeiro: Nós trouxemos dois parlamentares do PL, Luiz Lima e Ricardo Salles. O detalhe é que ambos eram do Novo antes de serem do PL. Tanto Ricardo Salles foi filiado do Novo quanto o Luiz Lima foi filiado do Novo também em 2016. O Dr. Sebastião [Coelho] é uma pessoa admirável, com quem eu tenho conversado há mais de um ano, discutindo a possibilidade dele ter uma candidatura ao Senado [No Disrtrito Federal,] nomes de peso como Michelle Bolsonaro e Damares Alves disputam o apoio do PL [para o Senado em 2026]. A gente conseguiu finalmente efetivar essa vinda dele, eu estou muito feliz, e será certamente mais um desses expoentes, um nome nacionalizado para defender as ideias que o Novo defende.

O Novo e o PL no Congresso são aliados. Os dois partidos fazem parte da oposição. Evidentemente que há diferenças em termos de cultura institucional e formas de atuação, mas estamos juntos. Não nos vemos como adversários. De maneira alguma há rixas, cada um tem a sua forma de atuação.

Mas nesse contexto atual, da corrida eleitoral para 2026, esses nomes podem fazer o Novo crescer também? O Novo vai usar esses nomes para aumentar de tamanho, aumentar sua influência política?

Eduardo Ribeiro: Com certeza. O objetivo de todo partido é crescer, né? Essas pessoas olhando para o Novo, vendo a atuação, a coerência do partido, a consistência na nossa atuação, se sentem mais confortáveis aqui, é natural. E outros virão: nós temos conversas com parlamentares de outros partidos também, que devem vir aí ao longo dos próximos meses para o Novo. Mas é nítido e eu tenho percebido nas conversas que o Novo virou um farol e uma casa para os políticos de direita que querem fazer política junto conosco.

Parlamentares de quais partidos, dá para adiantar?

Eduardo Ribeiro: Não, não posso adiantar porque seria deselegante com os os colegas dos outros partidos.

O senhor não teme que Bolsonaro e seu entorno possam ver essa atitude como uma forma de se opor a eles ou de competir com Jair Bolsonaro?

Eduardo Ribeiro: Não, não vejo isso. O Brasil é um sistema pluripartidário. O próprio Bolsonaro já deu declarações inclusive a respeito de eventuais candidatos de outros partidos, [dizendo] que eles devem se lançar, a democracia é assim. Eu não vejo o problema em relação a isso. Quanto mais partidos de direita, quanto mais lideranças de direita, melhor. Inclusive, o Novo é o único partido que defende o direito de você se candidatar sem pertencer a um partido. Nós defendemos as candidaturas independentes. Porque têm pessoas que não se sentem confortáveis, não se veem em nenhum partido, mas gostariam de ser candidatos. Nós defendemos esse direito. Hoje não é possível, a legislação não permite.

Qual é a estratégia do Novo? É Câmara? É Senado? Como o senhor vê a estratégia muito propagada na oposição de que é preciso ganhar o Senado em 2026 para equilibrar a relação de poderes com o Judiciário, principalmente com o STF?

Eduardo Ribeiro: É imperativo nós vencermos o Senado. Imperativo. Essa é a grande missão que eu vejo dentre tantas. Evidentemente que precisamos vencer o PT, precisamos tirar o Lula da Presidência e eleger um bom presidente, um presidente decente, uma pessoa correta. Mas ficou nítido que o Brasil hoje tem um um modelo de governança em que o Congresso tem o poder, está na mão dele, só precisa usar. Mais especificamente em relação ao Senado, diante de todos os abusos que nós estamos vendo, especialmente do Alexandre de Moraes, mas com a conivência de outros ministros do Supremo Tribunal Federal. A forma totalmente normalizada com que se trata a censura hoje no país, a censura de jornalistas, a censura de políticos, prisão de políticos, perseguição… Estamos em um regime de exceção, só que não se fala que é de exceção. Daqui a 20 anos vão olhar para trás e dizer: “Meu Deus, o Brasil viveu um regime de exceção por parte do Judiciário”. Então é um momento de inflexão no país e o Senado vai cumprir um papel fundamental. Então, o Novo tem lideranças, tem nomes com esse calibre, com essas convicções, com as características necessárias para ocupar esse espaço nesse momento de inflexão.

No Senado, nós temos o Marcel Van Hattem, pré-candidato a senador pelo Rio Grande do Sul, nós temos o Deltan Dallagnol, pré-candidato a senador pelo Paraná, nós temos o Ricardo Salles, pré-candidato a senador por São Paulo, agora o Dr. Sebastião, como pré-candidato a senador aqui no Distrito Federal. Temos diversos nomes em outros estados que inclusive têm condições de se colocar. Então vamos cumprir o nosso papel nesse sentido. Evidentemente que todo partido político precisa aumentar a sua bancada na Câmara Federal. É o número de deputados no final das contas que serve como critério para diversas coisas: atuação regimental aqui dentro da casa, fundo partidário, fundo eleitoral, tempo de TV, espaços. Então crescer na Câmara dos Deputados é essencial para qualquer partido.

Hoje nós estamos muito mais fortes do que nós estávamos em 2018, em 2022. Nós dobramos o número de filiados, vamos triplicar o número de filiados até a eleição de 2026. Nós temos uma capilaridade maior, nós estamos hoje em todas as regiões do país, nós temos mais de 300 vereadores, temos 20 prefeitos, pessoas com relevância que plantaram a semente do Novo por todo o Brasil e uma força muito grande nas redes [sociais]. Se o Supremo Tribunal Federal com a regulação do Marco Civil da internet não acabar com isso, vai ser a principal fonte de conexão com as pessoas. Isso já tem se mostrado de 2018 para 2022, agora vai ser muito mais. 

Senhor pode dar alguma estimativa de filiados? 

Eduardo Ribeiro: Hoje nós temos 70.000 filiados. Nossa expectativa até o final do ano é chegar em torno de de 90.000 a 100.000 filiados e e para 2026 o crescimento é muito sazonal. Mas, por exemplo, nós fomos para a eleição de 2022, o Novo estava perdendo filiados. A gente estava com menos de 30.000, agora a gente dobrou. Vai triplicar.

O senhor acha que é a atuação dos parlamentares que está trazendo mais gente?

Eduardo Ribeiro: É a atuação dos parlamentares que acaba sendo a marca do partido, a atuação do Romeu Zema em Minas Gerais também, que é nossa grande figura hoje no Executivo.

Os senhores têm uma meta de número de deputados para 2026, número de senadores que querem eleger?

Eduardo Ribeiro: Meta não. Mas eu estou plenamente tranquilo que o Novo vai bater com consistência a cláusula de barreira.

A questão do apoio do ex-presidente do partido, João Amoedo, à esquerda está superada dentro do Novo?

Eduardo Ribeiro: Superado. Foi muito difícil para o Novo. Afinal de contas, ele foi o nosso fundador, foi uma grande liderança, mas ele perdeu a mão completamente. Ele não conseguiu ser um líder. Não conseguiu manter a admiração, o respeito que ele tinha pelo partido e a declaração de voto dele para o Lula foi a gota d’água, né? Tudo tem limites. É evidente que a eleição de 2022 foi muito polarizada, as questões do Bolsonaro, e havia divisões internas, mas o Novo nasceu para ser o antagônico. Então, defender um voto no PT é absolutamente inadmissível para o Novo. Hoje o Novo no Congresso é o partido mais antagonista ao governo, ao PT.

O senhor tinha falado sobre a questão do equilíbrio dos poderes, da importância da oposição dominar o Senado em 2026. O que o senhor acha que tem que ser feito em relação ao STF?

Eduardo Ribeiro: A primeira questão é qual direita a gente vai eleger para o Senado. Esse que é o questionamento que o eleitor precisa fazer: escolher muito bem quais são os candidatos ao Senado em quem ele está votando. Porque é uma posição difícil. Você, como senador, votar para pedir o impeachment de um ministro do Supremo Tribunal Federal exige coragem, exige determinação. Os senadores que tenham processos no Supremo Tribunal Federal, que estejam enrolados com a Justiça, vão ter algum grau de dificuldade em fazer isso. Então, escolham bem os seus candidatos ao Senado para que cheguem lá desprendidos, com coragem e sem nada a perder, porque vai ser um momento delicado da história. A gente vai precisar das pessoas mais corajosas nesse momento. Eleger o presidente do Senado é absolutamente fundamental. Eleger o presidente da República também é fundamental, que dê a segurança para que o Senado possa cumprir o seu papel sem intimidação.

E a primeira coisa a ser feita é botar um impeachment do Alexandre [de Moraes]. Não há necessidade de mais provas no contexto político, na opinião de juristas renomados para se votar no impeachment de Moraes. E abrir uma CPI de abuso de autoridade no Senado para investigar não só o juiz do Supremo, mas os outros membros do Judiciário e ou membros que passaram pelo Executivo envolvidos com o Judiciário e que tenham infringido a lei do abuso de autoridade no Brasil.

Recentemente houve um movimento do ex-presidente Michel Temer para reunir os governadores presidenciáveis para tentar uma candidatura unificada de oposição. Isso gerou polêmica porque ele não incluiu no plano o nome de Bolsonaro ou de seus familiares. Como o Novo entendeu isso?

Eduardo Ribeiro: A direita tem uma capacidade de organização orgânica que tende a vir mais de baixo para cima, da base para as lideranças políticas. Então, não sei se essa estratégia de se fazer uma reunião com as grandes lideranças para escolher quem é o candidato, não sei se de fato vai funcionar. Acho que os candidatos devem se apresentar e a sociedade vai escolher.

O Bolsonaro está passando hoje por uma tremenda injustiça. Muitas das coisas que se usa para incriminar ele eu vejo como algo que fala mais em favor dele do que em desfavor. Em nenhum momento eu tive medo ou receio de que ele pudesse liderar um golpe de Estado.

Mas ainda que ele esteja passando por esse momento difícil, ele continua sendo a maior liderança no campo da direita. Eu acho que tirá-lo dessa conversa ou desse processo, qualquer que seja, ainda que ele não venha a ser o candidato, eu acho errado. 

O Novo vê no futuro a possibilidade de lançar um candidato a presidente ou participar de alguma candidatura como vice eventualmente?

Eduardo Ribeiro: Se eventualmente ele conseguir reduzir sua rejeição, se tornando um candidato viável contra o Lula, a opinião do partido é que a gente deveria se unir com o Bolsonaro para ele vencer o Lula e deixar as diferenças para depois. Ele não recuperando seus direitos políticos, é preciso ver qual estratégia ele vai adotar. Se ele vai abrir mão antes, se vai escolher um outro candidato antes de abril, se o Tarcísio [de Freitas] vai se desincompatibilizar ou não [do governo de São Paulo]. Então é um cenário muito incerto. Diante desse cenário incerto, qual que é a minha opinião: eu acho que os partidos têm que apresentar alternativas. Não vejo isso como confrontar liderança de quem quer que seja, mas eu vejo como uma virtude da direita: ter bons nomes para apresentar. Não vejo isso na esquerda, não vejo nomes claros na esquerda para substituir o Lula. Na direita, sim, tem vários nomes.

Nesse contexto, evidentemente que nós temos o governador Romeu Zema, que vem de uma reeleição muito boa em Minas Gerais, do estado que costuma decidir as eleições. O Zema é uma das poucas pessoas no Brasil que consegue virar o voto do PT para a direita em um volume relevante, como é o caso do Norte de Minas, do Vale do Jequitinhonha. Então ele é uma peça absolutamente fundamental no xadrez. Nesse contexto em que o Bolsonaro não possa ser candidato, ele será assim o nosso pré-candidato e vai se apresentar.

Pautas que têm sido defendidas pela oposição: a anistia aos manifestantes de 8 de janeiro e a CPI do INSS. Qual é a posição do Novo e a que o senhor atribui a morosidade na tramitação no Congresso?

Eduardo Ribeiro: Nós somos absolutamente favoráveis a ambas as pautas. Aliás, fomos o único partido que votou 100% na CPI do INSS e votou 100% pela urgência do PL da Anistia. O que essas pessoas do 8 de janeiro estão passando é um absurdo. Independente do delito que tenham cometido em termos de depredação ou qualquer coisa do tipo, dois anos presos, já pagaram e pagaram demais. Não deveriam estar presos. Isso é uma injustiça tremenda. A CPI da anistia nem se fala. A Justiça anulou o relatório que embasou a operação de INSS. Ou seja, o governo trabalhando para não ter uma CPI, enquanto o Judiciário e a Polícia Federal trabalhando para dar uma “melada” ali na investigação por parte do Executivo. É absurdo o que está acontecendo.

A questão da morosidade foi uma escolha do Congresso. Foi uma escolha de parte da oposição em apoiar o Hugo Motta [presidente da Câmara], que já tinha o apoio do PT, em troca de alguns cargos nas comissões e presidências de comissões. Mas, ao meu ver, a um custo alto. Então, infelizmente, por essa escolha, eu não consigo ver no horizonte que a gente vai ter ter sucesso.

O Novo não tem essa característica do personalismo, tem até uma cláusula que você não pode se candidatar indefinidamente. Eu queria que o senhor explicasse isso para o leitor e também como lidar com essa opção política de não cultuar personalidades em uma época em que a gente vê, não só no Brasil, mas em diversos países, a volta do culto à personalidade como, por exemplo, a eleição do presidente Donald Trump. É uma tendência mundial. Como o Novo vai navegar em meio a essa tendência?

Eduardo Ribeiro: É um grande desafio, mas a gente busca separar as coisas. O que seria um personalismo populista e o que seria admirar lideranças. Nós admiramos as nossas lideranças, as lideranças são importantes e as lideranças são mais conhecidas do que o próprio partido. O partido é o conjunto das suas lideranças que representam e defendem os princípios que estão no estatuto e na carta de princípios. Mas eu acho que o grande objetivo do Novo é não ter essa concentração de poder tão grande, que o poder seja mais difundido para que eventualmente, se alguém ir para o caminho errado, seja corrigido pelo restante da instituição. Quando você tem um culto ao personalismo, você também está sujeito aos erros dessa pessoa. Então, a maior prova que esse culto ao personalismo não existe no Novo é que o nosso fundador precisou sair do partido porque seria expulso. Porque tomou um rumo que não havia mais condições de correção, então ele precisou sair. Que outro partido conseguiu fazer com que o seu fundador saísse porque ele se desvirtuou dos princípios que lá atrás ele ia dizia defender?

Então, acho que essa foi a grande prova pela qual o Novo passou, foi difícil. Agora nós temos maturidade suficiente para conseguir com que essa cultura de respeitar, admirar as lideranças, não se torne um culto ao personalismo. Porque só isso vai permitir que o partido tenha consistência de longo prazo, porque as lideranças também vão, são pessoas, mas as ideias para a gente mudar o país, nós vamos precisar de muito tempo, vai demorar né? Então não vai ser numa geração, não sei, vão ser duas, três. Nós precisamos que as ideias estejam bem estabelecidas dentro da instituição para que quando a gente passar o bastão, [quando] vier uma turma muito mais jovem, elas continuarem defendendo as mesmas forças.

Mas isso não pode prejudicar o partido? Por exemplo, não sei se estou com a informação correta, mas se Marcel Van Hattem ou o senador Girão, terminando dois mandatos, eles não podem mais se candidatar pelo partido…

Eduardo Ribeiro: Nós reformamos essa decisão. Para essa regra, nós tínhamos partido do pressuposto de que muita gente queria ser candidato e que capital político é algo que você consegue passar para o próximo. Mas não é assim. O Novo lá de trás tinha uma visão até de certa forma utópica da política. E a gente foi aprendendo. Nós fomos fazendo esses ajustes para se adaptar à realidade. Mas não que por isso a gente abra mão daquilo que a gente defende. Se o Marcel [Van Hattem] está tá fazendo um bom trabalho, se os filiados querem que continue, a sociedade quer que ele continue, por que não? Então eu acho que essa foi a principal mudança, porque a gente consegue fazer uma construção de capital político. Eventualmente se um político do Novo começar a se desviar, não fizer um bom mandato, não desempenhar bem, naturalmente os filiados, a sociedade vai escolher um outro candidato e essa substituição vai acontecer de maneira natural.

Não é uma desvirtuação do partido?

Eduardo Ribeiro: Não, de forma alguma.

Como o senhor vê a relevância do pleito de 2026. Inclusive, uma das pautas do Novo é a austeridade fiscal. E a gente vê um um governo que parece ter poucos limites para gastos e não preza tanto por austeridade fiscal. E também há essa hipertrofia do poder Judiciário, principalmente no STF. Qual é a importância da eleição de 2026?

Eduardo Ribeiro: As eleições de 2026 serão um ponto de inflexão na história. O governo Lula, eu costumo dizer, é o governo da censura e do imposto. Que coincidentemente são os dois pilares de qualquer regime autoritário.  Extorquir a população ao máximo e, quando for reclamar, se censura e prende. Então essa é a síntese desse governo. Qualquer um que chegue lá precisa entender que nós vamos ter desafios gigantescos. O primeiro na questão fiscal. Nós vamos precisar fazer um ajuste fiscal muito profundo e doloroso e, até certo ponto, a população precisa ter consciência disso. Eu brinco que é como arrancar um dente. Você está lá com o dente doendo, você toma um remedinho, toma um analgésico, toma um anti-inflamatório, vai levando, vai levando, mas o dente continua ali. O correto é ir lá e arrancar o dente. Talvez doa, talvez seja desconfortável, mas depois você está livre disso. Nós vamos precisar de uma nova reforma da Previdência. Nós vamos precisar de uma Reforma Administrativa para reduzir o custo da máquina pública, reajustar cargos, conseguir alocar pessoas que estão em cargos obsoletos para cargos que são necessários agora. Trazer inteligência artificial pra gestão pública. Ainda há muita resistência do funcionalismo. A gente precisa digitalizar, trazer inteligência artificial, trazer eficiência e evidentemente conseguir trazer uma segurança jurídica maior pro país, que é um dos grandes problemas do nosso Brasil.

Nós vamos precisar de uma reforma trabalhista. Tivemos um avanço com a reforma do [ex-presidente Michel] Temer, mas agora por decisões do próprio Judiciário, do Supremo Tribunal Federal, temos agora uma nova leva de aumento dos processos na Justiça do Trabalho, que é algo tão custoso e tão difícil para o empreendedor. Então são várias reformas que precisam ser feitas para a gente conseguir voltar ao rumo de crescimento, que há muito tempo – mais de décadas – a gente não tem.

Em paralelo a isso, evidentemente, precisamos ter um Congresso e uma Presidência da República que enfrentem os abusos do Judiciário na hipertrofia, no que diz respeito ao poder, como também nos gastos. E eu sou a favor de juiz ganhar bem. Talvez os maiores salários do país tenham ser dos juízess, mas ganhar bem no jeito certo. Não com penduricalhos, não usando artifícios que o restante da população não tem direito de usar. Então, nós precisamos colocar isso com transparência para a sociedade ter essa discussão. Mas isso só vai acontecer se uma agenda muito clara vencer, não só de tirar o PT, mas de reformas que o país precisa, porque a sociedade precisa comprar [essa ideia].



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