Anistia e processo contra Bolsonaro pautam ato deste domingo

Anistia e processo contra Bolsonaro pautam ato deste domingo



Sob o lema “Justiça Já”, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados voltam à Avenida Paulista (SP), neste domingo (29). A mobilização tem como objetivo demonstrar apoio ao ex-mandatário, que é réu em processo no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado, bem como reivindicar anistia aos presos do 8 de janeiro. O evento irá ocorrer a partir das 14h.

“Vamos para a [Avenida] Paulista domingo, mostrar mais uma vez para o mundo que nós queremos liberdade”, disse Bolsonaro, ao discursar para aliados e apoiadores durante um evento do PL, em Belo Horizonte (MG). O evento em São Paulo é organizado pelo pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e um dos principais aliados do ex-presidente.

O ato deve contar com a participação dos governadores Tarcísio Gomes de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais), Jorginho Melo (Santa Catarina) e Cláudio Castro (Rio de Janeiro). O governadores Ratinho Jr. (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás) não devem comparecer.

Além dos gestores estaduais, aliados próximos a Bolsonaro também devem marcar presença, como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e os deputados Luciano Zucco (PL-RS), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Bia Kicis (PL-DF), Gustavo Gayer (PL-GO), Marco Feliciano (PL_SP), Carol De Torni (PL-SC), Marcel van Hatten (Novo-RS), André Fernandes (PL-CE), Mário Frias (PL-SP), entre outros. Os senadores Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Magno Malta (PL-ES), Rogério Marinho (PL-RN), Carlos Portinho (PL-RJ) e Jorge Seif (PL-SC) também sinalizaram a participação no ato.

A nova manifestação é a quarta realizada neste ano. A primeira ocorreu em 16 de março, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Em 6 de abril, Bolsonaro reuniu apoiadores na Avenida Paulista. Já em 7 de maio, ele realizou uma passeata em Brasília. 

O ato deste domingo ocorre em um momento decisivo para o ex-presidente. Desde o depoimento prestado ao Supremo, em 9 de junho, a delação do Mauro Cid, ex-ajudante de ordens, vem sendo questionada por inconsistências.

Reportagem da revista Veja mostrou que o militar teria conversado com o advogado Eduardo Kuntz, defensor do coronel Marcelo Câmara – o que contraria sua versão durante interrogatório no Supremo, quando negou ter discutido os termos de sua colaboração com outras pessoas. A revelação fez a defesa de Bolsonaro pedir a anulação da colaboração de Cid, mas o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, negou a solicitação.

Além disso, o STF encerrou nesta sexta-feira (27) a fase de instrução da ação penal – em que são produzidas as provas perante o Judiciário – pela suposta tentativa de golpe de Estado e determinou que as partes apresentem as alegações finais.

De acordo com determinação feita pelo ministro Alexandre de Moraes, a Procuradoria-Geral da República deve se manifestar nos próximos 15 dias e fazer suas últimas considerações sobre o caso. Após esse prazo, mais 15 dias serão destinados para a apresentação das alegações finais do delator Mauro Cid e, por fim, as defesas de Bolsonaro e dos demais réus terão o mesmo tempo para se manifestar. Essa é a última etapa na tramitação do processo, antes que o julgamento seja marcado.

Oposição chama apoiadores para ato em defesa de Bolsonaro 

Parlamentares aliados do ex-presidente convocaram apoiadores para a manifestação na Avenida Paulista. A deputada Bia Kicis (PL-DF) afirmou que o país vive um momento de “prisões, delações forjadas, perseguição política, pescas probatórias, violação ao devido processo legal, censura, inocentes presos”. Segundo ela, “pessoas estão exiladas” e é hora de “dar o basta”.

O deputado Gustavo Gayer (PL-GO) alertou para a possibilidade de prisão de Bolsonaro: “Pode ser a última manifestação antes deles prenderem Bolsonaro. Mas eu acredito que, e sei disso, se enchermos a Av. Paulista no dia 29, eles não terão coragem de prender nosso capitão”.

Já o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) destacou o caráter do ato: “É um evento contra essa ideologia comunista, socialista, que está tentando tomar conta do Brasil. Mas não vão conseguir”.

O deputado Capitão Alden (PL-BA) reforçou o tom de urgência: “Não sabemos o tipo de covardia que pode acontecer com o presidente Bolsonaro. Precisamos buscar a verdadeira justiça no Brasil”.

Por fim, o senador Magno Malta (PL-ES) conclamou a união popular: “Quando a justiça vira opressão, o povo se levanta! Sozinhos eles podem tentar nos calar, mas, com vocês, somos milhões!”.

Líderes evangélicos convocaram apoiadores para manifestação 

Em vídeo para as redes sociais, na terça-feira (24), Malafaia e outros líderes evangélicos também divulgaram apoio à manifestação. “Como povo de Deus, nós sempre oramos pelo Brasil e vamos continuar orando. Agora, oração sem ação, qual é o valor?”, questionou Malafaia.

“Não podemos aceitar tantos inocentes condenados e com penas tão desproporcionais no Brasil”, declarou o bispo Robson Carvalho, da Assembleia de Deus Ministério Mananciais da Vida (Admav) no mesmo vídeo. 

Também participaram da gravação os pastores Samuel Câmara (Assembleia de Deus), Jorge Linhares (Bola de Neve), Claudio Duarte (Projeto Recomeçar), Teo Hayashi (Movimento Dunamis); o bispo Abner Ferreira (Assembleia de Deus em Madureira); e os apóstolos César Augusto (Fonte da Vida), Ezequiel Teixeira (Projeto Vida Nova), e Renê Terra Nova.

Ato com Bolsonaro ocorre no momento que validade da delação de Cid é contestada pela oposição

O protesto ocorre no exato momento em que novos vazamentos colocam em xeque a delação de Mauro Cid. Em mensagens atribuídas a ele, enviadas por meio de perfil falso, o ex-ajudante de ordens nega ter incriminado Bolsonaro e acusa a Polícia Federal de distorcer suas falas. Cid também insinua que Moraes estaria conduzindo os inquéritos movido por motivação pessoal.

Esses vazamentos desencadearam reação nas defesas de outros investigados, que passaram a questionar a validade da delação — firmada com o STF e homologada por Moraes. Os advogados de Bolsonaro e de aliados, como os generais Braga Netto e Augusto Heleno, além do ex-ministro Anderson Torres, alegam quebra das cláusulas de sigilo, veracidade e compromisso legal com os fatos.

Diante da crise, o STF manteve cautela. Moraes optou por preservar temporariamente o acordo, mas determinou acareações e coleta adicional de provas. O entendimento da Corte, com base em jurisprudência consolidada, é de que, mesmo se anulada a delação, provas obtidas de forma autônoma podem ser mantidas.

Na terça-feira (24), após a acareação entre Cid e Braga Netto, o advogado do general e ex-candidato a vice-presidente afirmou que o tenente-coronel teria entrado em contradição durante a confrontação de versões sobre o caso. De acordo com o defensor José Luis Oliveira Lima, isso teria ocorrido quando Cid tentou explicar como teria recebido um pacote com R$ 100 mil em dinheiro de Braga Netto. O advogado afirmou que vai fazer novo pedido de anulação da delação de Cid. A sessão de acareação foi realizada a portas fechadas e não foi transmitida ao público.

Além disso, Moraes determinou, em 18 de junho, a prisão do coronel Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, por suspeita de obstrução de Justiça. A decisão se baseou em contatos entre o advogado de Câmara, Eduardo Kuntz, e o delator Mauro Cid. Moraes também abriu inquérito contra Câmara e Kuntz e ordenou que os três prestem depoimento à PF. Kuntz protocolou no STF gravações de conversas com Cid e pediu a anulação da delação.

A eventual invalidação da colaboração de Cid atingiria um dos pilares da acusação. Mas, mesmo com esse revés, o julgamento do chamado “núcleo comandante” da suposta tentativa de golpe continua, ainda que com fundamentos fragilizados.

Relembre como foi a manifestação anterior

A manifestação anterior, em 7 de maio de 2025, reuniu milhares de pessoas para participarem da “Caminhada Pacífica pela Anistia Humanitária”, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. O ato foi convocado por Bolsonaro e teve como principal pauta a defesa da anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023. O protesto ocorreu de forma pacífica e contou com a presença de parlamentares, líderes religiosos e familiares de presos.

Ao discursar no evento, Bolsonaro afirmou que a anistia é prerrogativa do Congresso. Na época, congressistas de oposição haviam reunido assinaturas para pautar um requerimento de urgência para votar o PL da anistia na Câmara dos Deputados. O requerimento não foi colocado em votação pelo presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

“Quem esperava um público como esse em Brasília no meio da semana? Ninguém esperava. A presença de vocês aqui é a certeza de que estamos no caminho certo. A anistia é um ato político e privativo do parlamento brasileiro. O Parlamento votou, ninguém tem que se meter em nada”, afirmou o ex-presidente.

Além dele, discursaram no evento a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os deputados Nikolas Ferreira (PL-MG), Gustavo Gayer (PL-GO), Luciano Zucco (PL-RS), Eros Biondini (PL-MG), Helio Lopes (PL-RJ), Domingos Sávio (PL-MG); os senadores Marcos Pontes (PL-SP), Marcio Bittar (União-AC), Magno Malta (PL-ES) e Eduardo Girão (Novo-CE), entre outros parlamentares da oposição.

Michelle classificou a manifestação como um “ato profético” em defesa da anistia. Ela elogiou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux pelo voto no caso da cabeleireira Débora Rodrigues dos Santos, presa após escrever a frase “perdeu, mané” com batom na estátua da Justiça em frente à sede da Corte no dia 8 de janeiro de 2023.

Além dos políticos, familiares de presos, influenciadores digitais e caravanas de pelo menos nove estados estiveram presentes na manifestação pró-anistia em Brasília.



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