O presidente Donald Trump disse que implementará uma tarifa de 25% sobre as importações de automóveis, expandindo uma guerra comercial destinada a trazer mais empregos na indústria para os EUA e preparando o terreno para uma pressão ainda mais ampla sobre as taxas na próxima semana.
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— O que vamos fazer é impor uma tarifa de 25% sobre todos os carros que não forem fabricados nos Estados Unidos — disse Trump na Casa Branca nesta quarta-feira, classificando a medida como ‘muito modesta’.
— Vamos cobrar dos países por fazerem negócios no nosso país e levarem nossos empregos, levarem nossa riqueza, levarem muitas coisas que eles têm levado ao longo dos anos— disse.
Trump disse que as tarifas vão entrar em vigor em 2 de abril e que os EUA começariam a cobrá-las um dia depois. As tarifas se somarão aos impostos já vigentes, disse o secretário da equipe da Casa Branca, Will Scharf, e o governo projeta que as taxas resultarão em US$ 100 bilhões de novas receitas anuais para os EUA.
As ações caíram nesta quarta-feira após um relatório inicial da Bloomberg News indicar que Trump planejava fazer um anúncio sobre tarifas para automóveis, deixando os mercados nervosos sobre o impacto das guerras comerciais do presidente na economia dos EUA.
Em Wall Street, o S&P 500 caiu 1,1% e o Nasdaq recuou 1,8%. O Dow Jones caiu 0,3%.
A movimentação desta quarta-feira ocorre dias antes de um anúncio ainda mais amplo das chamadas tarifas recíprocas, esperado para 2 de abril — uma tentativa de reduzir as barreiras de outros países e diminuir os déficits comerciais dos EUA. Essas tarifas farão com que os EUA apliquem taxas de forma individualizada, país por país, para combater as barreiras impostas às importações americanas.
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No entanto, Trump sinalizou que alguns parceiros comerciais podem receber possíveis isenções ou reduções nas tarifas. Outras taxas específicas para setores também estão sendo planejadas, com Trump ameaçando impor tarifas sobre madeira, semicondutores e medicamentos farmacêuticos.
— Esse é o verdadeiro Dia da Libertação da América, que será em 2 de abril, e estou ansioso por isso— disse Trump.
Os impostos sobre automóveis representariam uma expansão significativa da guerra comercial do presidente e provavelmente envolveriam algumas das maiores marcas automotivas de países como Japão, Alemanha e Coreia do Sul, todos importantes parceiros comerciais dos EUA.
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A medida corre o risco de interromper as operações das montadoras americanas, que dependem de cadeias de suprimentos altamente integradas nos EUA, México e Canadá. No entanto, Trump argumentou que as tarifas ajudarão a estimular o crescimento do setor automotivo doméstico e forçarão as empresas a transferir mais produção para os EUA.
— Antes de eu ser eleito, estávamos perdendo todas as nossas fábricas que estavam sendo construídas no México, no Canadá e em outros lugares. Agora, em grande parte, essas fábricas pararam e estão sendo transferidas para o nosso país — disse. — Muitas empresas estarão em ótima situação, porque já construíram suas fábricas, mas suas fábricas estão superutilizadas, então elas poderão expandi-las de forma barata e rápida, mas outras virão para o nosso país e construirão e já estão procurando locais.”
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As tarifas sobre automóveis poderiam afetar uma parte significativa das importações de carros e caminhões leves dos EUA, avaliadas no ano passado em mais de US$ 240 bilhões.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, disse que a decisão dos EUA foi lamentável.
“Agora iremos avaliar este anúncio, juntamente com outras medidas que os EUA estão prevendo para os próximos dias”, disse von der Leyen em um comunicado. “A UE continuará a buscar soluções negociadas, enquanto protege seus interesses econômicos.”
O primeiro-ministro canadense Mark Carney disse que as tarifas dos EUA são um “ataque direto” às pessoas que trabalham na indústria automotiva e violam o acordo comercial entre EUA, México e Canadá. Ele não revelou novas medidas de retaliação, dizendo que voaria de volta para Ottawa para reuniões com membros de seu gabinete primeiro.
O premier de Ontário, Doug Ford, líder da província que abriga a maior parte da indústria automotiva do Canadá, disse que é praticamente garantido que o Canadá retaliará. Ele instou Carney a “mirar nos carros americanos” — os veículos fabricados nos EUA possuem uma participação dominante no mercado canadense de automóveis.
“Vamos garantir que causemos o maior dano possível ao povo americano, sem prejudicar a população canadense”, disse o premier.
A Autos Drive America, que faz lobby em nome dos fabricantes de automóveis com sede fora dos EUA, incluindo a Toyota Motor e a BMW, alertou que os novos impostos farão o oposto do que Trump deseja.
“As tarifas impostas hoje tornarão mais caro produzir e vender carros nos Estados Unidos, o que acabará levando a preços mais altos, menos opções para os consumidores e menos empregos na indústria manufatureira nos EUA”, disse Jennifer Safavian, presidente do grupo, em um comunicado.
Donald Trump reiterou sua promessa de buscar uma dedução fiscal para empréstimos par compra de automóveis, e pediu ao presidente republicano da Câmara, Mike Johnson, que inclua a medida em um próximo pacote de corte de impostos que está sendo negociado no Congresso.
— Estamos tentando obter aprovação, se pudermos. Se você pegar dinheiro emprestado para comprar um carro, poderá deduzir os pagamentos de juros para fins de imposto de renda, mas somente se o carro for fabricado nos Estados Unidos— afirmou.
As ações de Trump estão prontas para tornar os carros mais caros para os consumidores americanos, já preocupados com a inflação, e ampliar as preocupações de que suas tarifas levarão a economia a uma desaceleração.
As tarifas provavelmente aumentarão os preços dos carros fabricados no exterior, mas até mesmo os veículos fabricados nos EUA sofrerão aumentos de preços se os suprimentos e as peças forem atingidos por impostos ou se as cadeias de suprimentos forem cortadas da fabricação em países de custo mais baixo.
Analistas estimaram que as novas tarifas poderiam aumentar os preços dos carros novos em milhares de dólares por veículo. Um estudo recente descobriu que as tarifas sobre o Canadá, o México e a China aumentariam o custo de produção de um veículo crossover em cerca de US$ 4.000, enquanto um veículo elétrico fabricado nos EUA aumentaria em cerca de US$ 12.000.