O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Diogo Guillen, indicou nesta quinta-feira que a Selic, a taxa básica de juros da economia brasileira, pode ficar elevada por mais tempo diante do distanciamento das expectativas de inflação da meta de 3,0%.
Guillen chamou atenção para o trecho da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) em que o BC destaca que o cenário de convergência da inflação à meta fica mais desafiador com expectativas desancoradas em prazos mais longos, o que “exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado”.
No Boletim Focus, as expectativas estão longe da meta por todo o horizonte considerado. Para 2028, a projeção é de 3,78%. Mesmo as projeções oficiais do BC só se aproximam da meta no segundo semestre de 2027, em 3,1%.
— Tem um trecho na ata que eu chamo atenção que é aquela discussão de que, quando está com expectativas desancoradas, as taxas de juros têm que ser mais altas, como já estamos vendo nesse ciclo, quando se compara com o passado, e por mais tempo.
A taxa Selic está em 14,25% ao ano e o BC já indicou novo aumento na próxima reunião do Copom, em maio, de menor magnitude do que 1pp. O mercado espera que o ciclo se encerre em 15%, em junho, e que a primeira queda de juros ocorra no primeiro encontro de 2026.
Guillen afirma que as projeções de inflação do próprio BC estão acima da meta, de 3% (que pode chegar até 4,5%), durante todo chamado “horizonte relevante” da política de juros, ou seja, de seis a 18 meses.
Relatório do BC divulgado nesta quinta reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil este ano de 2,1% para 1,9%.
Além disso, o BC sinalizou que só vê a inflação perto da meta (3%) no segundo semestre de 2027, conforme suas projeções oficiais, que levam em conta as estimativas da taxa Selic extraídas do Boletim Focus. No fim deste ano, a autoridade monetária calcula um risco de 70% de a inflação superar o teto da meta (4,5%), de 50% no relatório anterior, em dezembro.
Em relação ao crescimento econômico, no comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC já havia apontado que havia sinais de “incipiente moderação” da atividade. O Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 ficou aquém do esperado, com avanço de 0,2%. No ano de 2024, o PIB cresceu 3,4%.
O BC, na semana passada, elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% para 14,25% ao ano.