A Alemanha é, de longe, o estado-membro da União Europeia mais exposto em termos de tarifas automotivas. No ano passado, os EUA importaram US$ 24,8 bilhões em veículos novos do país, quase metade dos US$ 52,3 bilhões totais enviados pelo bloco.
A maioria das montadoras alemãs opera fábricas nos EUA, onde produzem veículos tanto para consumidores locais quanto para exportação. Com as novas tarifas, Porsche e Mercedes-Benz serão as mais impactadas, enfrentando um possível prejuízo de € 3,4 bilhões (US$ 3,7 bilhões) com as novas tarifas dos EUA sobre carros importados.
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Com a União Europeia avaliando uma resposta, qualquer escalada na guerra comercial pode agravar ainda mais a situação de um setor que já enfrenta custos crescentes e demanda fraca. Para compensar o impacto, as montadoras podem ter que aumentar os preços ou transferir mais produção para os EUA.
Veja abaixo como cada montadora será impactada pelo mais recente ataque comercial do presidente dos EUA:
A montadora alemã, que enfrenta queda nas vendas na China, pode ser a mais exposta às tarifas de Trump. A montadora de luxo, especializada em carros esportivos, SUVs e sedãs de alto desempenho, cresceu de forma constante nos últimos 15 anos nos EUA, que recentemente ultrapassaram a China como seu maior mercado. No entanto, os concessionários da Porsche nos EUA dependem inteiramente de importações, já que a fabricante não possui fábricas no país.
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Com um valor de mercado em torno de € 44 bilhões, a Porsche, que tem sua sede na cidade alemã de Stuttgart, agora vale menos da metade do que em maio de 2023, quando suas ações atingiram o pico após um dos maiores IPOs da Europa em anos. A forte desvalorização aumenta a pressão sobre o CEO Oliver Blume, que comanda tanto a Porsche quanto a Volkswagen.
Enquanto a demanda decepcionante por veículos elétricos da Porsche prejudicou a empresa na China – onde as entregas caíram 28% no ano passado – esse não é um grande problema nos EUA. A adoção de carros elétricos tem sido mais lenta por lá, e os consumidores americanos compraram mais Porsches em todos os anos desde 2009, exceto em 2020, quando a pandemia de Covid-19 começou.
A Nissan, que já enfrenta dificuldades, pode ser a mais atingida entre as montadoras japonesas, com uma possível redução de 56% em seu lucro operacional.
Subaru está analisando formas de minimizar o impacto das tarifas, mas ainda não divulgou medidas concretas. Segundo o Goldman Sachs, a montadora japonesa pode ter uma queda de 23% no lucro operacional de 2026.
A Hyundai pode ser uma das mais prejudicadas. Apesar de possuir fábricas no Alabama e na Geórgia e ter anunciado um plano de expansão de US$ 21 bilhões nos Estados Unidos, a montadora e sua afiliada Kia importaram mais de um milhão de veículos para os EUA no ano passado, representando mais da metade de suas vendas no país, segundo dados da Global Data. A empresa emprega cerca de 570.000 pessoas no país.
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Segundo Hyuk Jin Yoon, analista da SK Securities, com sede em Seul, a Hyundai e a Kia podem ter que pagar até 10 trilhões de wons (US$ 7 bilhões) por ano em tarifas aos EUA se a alíquota de 25% for aplicada, o que representa quase 40% do lucro operacional total das montadoras em 2024.
Mesmo com quatro fábricas de montagem em Kentucky, Indiana, Mississippi e Texas, além de fábricas de motores na Virgínia Ocidental e no Alabama, a montadora japonesa Toyota ainda importa cerca de metade dos veículos que vende nos EUA. A montadora afirmou que suas operações no México estão 100% em conformidade com o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA).
De acordo com analistas do Goldman Sachs Japan, as tarifas podem reduzir em 6% o lucro operacional estimado da Toyota para o ano fiscal de 2026.
A Stellantis possui uma rede de produção estabelecida nos EUA, fabricando modelos da Jeep, Dodge, Chrysler e Ram. No entanto, também será impactada, pois produz os SUVs Jeep Compass e Wagoneer S no México, além das minivans Chrysler Pacifica no Canadá e dos modelos compactos Dodge Hornet e Fiat 500 na Itália.
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A francesa Renault é a menos impactada, pois suas vendas são majoritariamente concentradas na Europa.
A BMW afirmou no início deste mês que espera que os conflitos comerciais entre os Estados Unidos Europa e China custem cerca de € 1 bilhão (US$ 1,078 bilhão) à montadora este ano, mas essa estimativa não incluía as novas tarifas de Trump.
A Ford também pode ser menos impactada que alguns concorrentes pelas novas tarifas de Trump, já que cerca de 80% dos carros que vende nos EUA são produzidos no país. Mesmo assim, enfrentará alguma dificuldade, já que a montadora fabrica a picape Maverick, o SUV Bronco Sport e o Mustang Mach-E elétrico no México.
A fabricante de veículos elétricos de Elon Musk possui grandes fábricas na Califórnia e no Texas que produzem todos os carros que vende nos EUA, protegendo-a em grande parte das novas tarifas de Trump sobre importações de automóveis e componentes essenciais. Mesmo assim, o próprio Musk reconheceu que a Tesla não sairá totalmente ilesa.
Em uma publicação no X na quarta-feira, ele afirmou que as tarifas terão um impacto “significativo” na empresa. Em outra postagem, acrescentou que os preços das peças importadas usadas pela Tesla sofrerão um impacto “não trivial.”
Entre 60% e 75% dos componentes da Tesla são fabricados nos EUA, dependendo do modelo, segundo um documento de 2024 da Administração Nacional de Segurança no Tráfego Rodoviário dos EUA. A maior parte dos componentes restantes vem do México. No entanto, o valor total das peças importadas não foi especificado, tornando incerto o impacto financeiro das tarifas sobre a Tesla.