Agentes do Departamento de Segurança Interna (DHS, na sigla em inglês) dos Estados Unidos detiveram a estudante turca Rumeysa Ozturk, de 30 anos, na noite de terça-feira, sob a acusação de envolvimento em “atividades de apoio ao Hamas”. A prisão ocorre em meio à repressão do governo de Donald Trump contra manifestações estudantis pró-Palestina em universidades americanas.
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A estudante cursa doutorado na Universidade Tufts e foi detida por seis agentes à paisana nas proximidades de seu apartamento, perto do campus de Somerville, em Massachusetts. De acordo com o relato da advogada Masha Khanbabai à CNN, os agentes não apresentaram seus distintivos até que Ozturk estivesse fisicamente contida.
— As investigações do Departamento de Segurança Interna descobriram que Ozturk estava envolvida em atividades de apoio ao Hamas. Um visto é um privilégio, não um direito. Glorificar e apoiar terroristas que matam americanos é motivo para que a emissão de vistos seja encerrada. Isso é segurança no senso comum — disse a porta-voz do DHS, Tricia McLaughlin, à agência Associated Press.
O vídeo da abordagem, capturado por câmeras de vigilância do bairro, mostra os agentes cobrindo os rostos com panos, máscaras e óculos escuros. Uma pessoa, que não aparece nas imagens, grita: “É, vocês não aparecem. Por que estão escondendo seus rostos?” Após cerca de um minuto de abordagem, Ozturk foi levada a um SUV algemada.
— Não temos conhecimento do paradeiro dela e não conseguimos contatá-la — disse Khanbabai. — Nenhuma acusação foi feita contra Rumeysa até o momento, que tenhamos conhecimento.
O caso ocorre em um momento de escalada da repressão às manifestações estudantis em apoio a palestinos no país. Ozturk é uma entre vários estudantes que entraram na mira do governo Trump para deportação. O republicano mira universidades onde os protestos em apoio aos palestinos foram intensos, no ano passado, e vem cortando recursos federais e ordenando a expulsão de alunos estrangeiros envolvidos nas manifestações.
Alireza Doroudi, um cidadão iraniano e doutorando na Universidade do Alabama, também foi detido fora do campus por autoridades federais de imigração, informou a faculdade em comunicado nesta quarta-feira. Não ficou claro, porém, por que o aluno foi alvo, e as autoridades de imigração dos EUA não responderam às perguntas do jornal The New York Times.
Na Universidade Columbia, por exemplo, o sírio-alestino e residente permanente Mahmoud Khalil também foi detido este mês, enquanto uma juíza barrou a prisão da sul-coreana Yunseo Chung.
A porta-voz do DHS também afirmou que Ozturk foi detida sob uma medida raramente utilizada da Lei de Imigração e Nacionalidade, que o governo também está usando para tentar deportar Khalil. A medida diz que o secretário de Estado pode iniciar processos de deportação contra qualquer estrangeiro cuja presença nos Estados Unidos seja considerada uma ameaça aos interesses da política externa do país.
Juíza pediu explicações
Segundo a CNN, a juíza federal Indira Talwani deu prazo até sexta-feira para que o governo explique os motivos legais da detenção. Além disso, a magistrada ordenou que o governo não transferisse Ozturk para fora do estado sem aviso prévio por escrito ao tribunal, mas o Serviço de Imigração e Alfândega (ICE, na sigla em inglês) alegou que recebeu a ordem depois que já tinha feito a transferência para um centro de processamento na Louisiana. O Tribunal de Apelações do 5º Circuito, sediado no estado, tem histórico de decisões desfavoráveis a imigrantes.
Na quarta-feira, centenas de pessoas se reuniram em protesto em um parque local, exigindo a libertação de Ozturk e denunciando a política imigratória do governo. “Libertem Rumeysa Ozturk agora!”, gritavam os manifestantes, com bandeiras palestinas e cartazes contra o ICE.
O governo americano afirma que o visto F-1 da estudante, que está válido como doutoranda na Tufts, foi cancelado. No entanto, ela não foi formalmente acusada até o momento. A Universidade Tufts declarou não ter tido conhecimento prévio da prisão, tampouco fornecido qualquer informação às autoridades.
“A universidade não compartilhou nenhuma informação com autoridades federais antes do evento, e o local onde isso ocorreu não é afiliado à Tufts University”, disse o presidente da instituição, Sunil Kumar, em comunicado. “Pelo que nos foi dito posteriormente, o status do visto da aluna foi encerrado, e buscamos confirmar se essa informação é verdadeira”, acrescentou.
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Kumar classificou o vídeo da prisão como “perturbador” e acrescentou: “Reconhecemos o quão assustadora e angustiante esta situação é para (Ozturk), seus entes queridos e a comunidade em geral aqui em Tufts, especialmente nossos alunos, funcionários e professores internacionais que podem estar se sentindo vulneráveis ou perturbados por esses eventos.”
Já o governo turco afirmou estar acompanhando o caso.
“Iniciativas foram tomadas com o Departamento de Estado dos EUA, a Unidade de Imigração e Fiscalização Aduaneira e outras unidades autorizadas. Todos os esforços estão sendo feitos para fornecer os serviços consulares e o suporte legal necessários para proteger os direitos de nossos cidadãos”, publicou a embaixada turca na rede X.
O presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva em 29 de janeiro dizendo que sua administração tomaria medidas para combater o antissemitismo, inclusive nos campi. A ordem dizia que seria política dos EUA usar “todas as ferramentas legais disponíveis e apropriadas”, inclusive para “remover” não cidadãos que se envolvam em “assédio e violência antissemita ilegais”.
Críticos da ofensiva nos campi alegam que há casos em que condenações a atos do governo de Israel por suas ações em Gaza — onde os bombardeios israelenses já mataram mais de 50 mil pessoas em um ano e meio de guerra com o grupo terrorista Hamas — estão sendo consideradas antissemitismo pelas autoridades com o objetivo de blindar o país aliado.
(Com AFP e The New York Times)